quarta-feira, 16 de março de 2016

Resenha: A garota sem nome - Marina Chapman

Título: A garota sem nome
Título Original: The girl with no name
Autora: Marina Chapman
Tradutor: José Gradel
Páginas: 322
Ano: 2015
Editora: Record
Não ficção estrangeira, Biografia

A incrível história real de uma criança criada por macacos

Em 1954, em um vilarejo remoto da América do Sul, uma menina de 4 anos foi sequestrada e abandonada no coração da floresta tropical colombiana. Sozinha e com medo, agarrou-se à única companhia que encontrara: um grupo de macacos que a acolheu em sua família. Em um relato comovente, Chapman revela os detalhes do período ao longo do qual foi pouco a pouco se tornando feroz. O que ela não sabia, no entanto, é que o seu maior teste de sobrevivência não seria na selva. Depois de anos na floresta, Chapman, já com 10 anos, foi capturada por caçadores e devolvida à civilização. Vendida para um bordel, seria escravizada e espancada diariamente, até escapar – para viver a perigosa rotina de uma criança de rua, e depois a de prisioneira dentro da casa de uma família mafiosa colombiana. Mas havia uma esperança...
A garota sem nome narra esta incrível história de sobrevivência e perseverança — uma demonstração do verdadeiro significado de “humano” e do que nos conecta às pessoas.

Em um vilarejo da América do Sul, uma garotinha de 4 anos foi capturada à luz do dia do aconchego de seu lar. Após uma intensa corrida, os sequestradores a abandonaram no coração da floresta sem motivo aparente. Naquela época, havia uma guerra na Colômbia, o que justificava tal atrocidade em plena luz do dia.

Por dias a garota esperou que sua mãe viesse à seu encontro, almejou que alguém a tirasse daquele lugar estranho e assustador. Uma criança de 4 anos antes dependente da mãe para tudo, hoje à mercê do destino. Ela teria que sobreviver, mas como faria isso? Ela mal sabia o seu próprio nome. 
Há a recordação de ser chamada, de gritarem comigo para que eu voltasse para casa. Eu geralmente não obedecia. Quando essa lembrança chega a mim, é como se eu estivesse a ponto de recordar meu nome verdadeiro, é claro, é o que deveriam estar gritando. Isso me atormenta, pois permanece fora do meu alcance. 
No primeiro dia, não se via nada, o barulho da floresta era assustador. Sons altos invadiam o silêncio e se misturavam numa dança dos horrores. Com muito medo, ela adormeceu, temendo por quem quer que fosse o dono daqueles sons. O crepitar das folhas e o uivo de um animal distante. 
A selva estava uma vez mais cheia de guinchos e uivos assassinos, e os arbustos ao meu redor continuaram a agitar-se e a farfalhar. Eu estava dominada por um terror intenso e paralisante. O que havia ali? 
Apesar do medo, o cansaço a fez adormecer. A exaustão era tanta, que dormiu um sono profundo. 
Eu desejava dormir como nunca tinha desejado nada antes, porque nenhum pesadelo, apesar de assustador, poderia ser pior que aquele no qual eu já estava. 
Com a luz intensa quase cegando seu olhos, todo o traço de sono havia desaparecido. Quando abriu completamente os olhos, ela compreendeu que não estava sendo apenas cercada e sim observada. A vários passos de distância, um grupo de macacos estava espalhado ao seu redor. Enquanto ela os observava, eles a observavam de volta.


Eles estavam curiosos, o que seria aquela espécie desconhecida? Depois de muito observá-la, eles perderam o interesse. Justamente quando a garota perdeu o medo deles. Ela estava fascinada, queria a qualquer custo fazer parte daquele bando. O modo como se relacionavam e cuidavam um do outro era envolvente. Ela tentou chamar atenção deles, mas foi ignorada. Passou a observá-los ainda mais, e a imitar o  que eles faziam para obter alimento. 
No meu tronco oco de árvore, com o som familiar e reconfortante dos macacos acima de mim, eu estava gradualmente me transformando em um deles.
Com o passar do tempo, os macacos passaram a incluir ela em algumas atividades. Era uma relação pura, eles a integraram ao bando, de início não se importavam com sua presença, mais tarde passaram a se relacionar com ela através de gestos e sons. Ela aprendeu o que cada som significava e passou a usá-los para alertá-los e se comunicar. 
Havia poucos momento de dia ou de noite que não passassem juntos, seja catando piolhos, brincando ou comunicando-se de algum outro modo, eu estava feliz de ser um deles, de me sentir incluída. Eu sentia que pertencia ao lugar em que estava agora.
Ela passou a apreciar a floresta, agora que já sabia sobreviver nela. Um dia, ela viu algo que a lembrou de sua antiga vida. Uma índia dando á luz. Quando ela a viu segurando seu filho tão amavelmente, sentiu inveja. Dias depois, se deparou com um casal de caçadores se embrenhando por entre o mato. Ao avistar a mulher, sentiu por ela uma atração. Uma esperança de que a caçadora a segurasse tão firmemente quanto a índia segurou seu filho. Em um ímpeto, deixou-se ser vista por eles. Um de seus piores erros. 
Isso me fez lembrar como a minha própria espécie podia ser fria e cruel. Mal sabia eu que, apesar da minha criação selvagem, um tipo de vida ainda mais selvagem tinha apenas começado. Eu tinha me entregado a criaturas que não sentiam nada por outras criaturas. 

A Garota Sem Nome retrata a necessidade intensa de ser amada, e a busca por saciar este desejo. Ela buscou incansavelmente encontrar o seu lugar no mundo, bem como sua identidade. Marina passou por muita coisa durante sua infância, difícil acreditar que seja uma história real, mas não impossível. Ela correu risco de morte, e fiquei extremamente surpresa por ela ter aguentado por tanto tempo.
A família se encontra em qualquer lugar onde você é amada e cuidada.
As descrições de início eram de uma criança que pouco conhecia do mundo. Ela fazia comparações com o que ela conhecia de seus 4 anos de civilização. O que deixou o livro bem realístico, pois conforme ela vai crescendo, sua percepção de mundo muda de acordo com o que há ao redor dela.
Eu já havia visto chuva antes, é claro, mas agora ela tomou um significado totalmente novo. Dançava nas folhas, fazia o chão da floresta pular e gingar e criava ruído suficiente para afogar quase todos os outros sons.
Tão pálida e suave, parecia tão vulnerável como eu me sentia. Era como se eu fosse uma árvore e minha casca tivesse sido retirada, expondo a madeira pálida e delicada debaixo dela. 

Depois de ter sido arrancada mais uma vez de seu lar, a garota sentia falta da selva. Ela só sabia como se portar na selva, o que dificultou sua inserção na civilização novamente. Ela teve que aprender os costumes e línguas de uma espécia quase que desconhecida para ela: a humana.
Assim como certa vez, eu ficara confusa e desorientada pela selva, agora eu ficava profundamente inquieta com qualquer coisa que não fosse a selva. 
Tão logo chegou, percebeu que a humanidade não liga para seus semelhantes, a ganância era maior do que o amor que pudessem sentir um pelo o outro. Quando isso passou a ser normal? 
Eu sabia o suficiente para compreender que o sexo podia ser o caminho para a ruína de uma garota.
Há também neste livro uma forte crítica a religião, após ela ter passado um tempo em um convento.
Que tipo de Deus dava às crianças pequenas vidas parecidas com aquela que ele tinha dado a mim?
Levantar às quatro da manhã para rezar para um Deus que eu ainda achava que tinha me abandonado.
Qual era o sentido em viver se aquela ia ser minha existência: uma menina a mais entre um enorme número de crianças invisíveis - nada mais que números - que eram tão indesejadas e tão odiadas que tinham sido traficadas?

·         Marina Chapman nasceu na Colômbia, por volta de 1950. A data e o local exatos são desconhecidos. Vive hoje em Bradford, Inglaterra, é casada e tem duas filhas. Todo o lucro da autora com este livro foi doado para instituições que combatem o tráfico internacional de pessoas e a exploração infantil na Colômbia.

Por algum tempo Marina se recusou a falar de sua infância. Foi sua filha que a convenceu de contar sua história. A sua vida inspirou o documentário publicado pela National Geographic Channel, Woman Raised By Monkeys (mulher criada por macacos, em tradução livre).

Pesquisadores alegam que são falsas memórias fantasiadas para encobrir um passado de abuso. Atualmente, Marina consegue se relacionar facilmente com animais e crianças, mas não adultos devido ao que passou com os humanos.
Por algum tempo, pelo menos, desisti de até mesmo se considerar os seres humanos como minha própria espécie, porque quanto mais velha eu ficava, mais sentia o amor da minha família de macacos e aprendia a valorizar todos eles como indivíduos.
Eu adoraria me delongar mais, há ainda tanta coisa para falar deste livro. É uma narrativa fascinante, um livro fantástico, se você tiver a oportunidade de ler, leia! É um relato verdadeiro, que vale a pena ser lido. E ai, se interessou pelo livro? Já o leu? Deixe aqui um comentário!

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